quarta-feira, 20 de março de 2013

Relações Familiares e Dificuldades Psicológicas: Há Culpados?


Quando algum membro da família passa por dificuldades psicológicas/emocionais, a tendência do senso comum – que nem sempre é sinônimo de bom senso – é estar sempre a postos para apontar um culpado, sobretudo quando a pessoa acometida por alguma dificuldade psicológica é uma criança.

Nós, psicólogos, frequentemente encontramos, em nossa prática clínica, pais preocupados, inseguros, constrangidos ou “na defensiva” devido à culpa imputada a eles por parentes, vizinhos, professores e até por eles próprios!

No imaginário coletivo há a ideia equivocada de que a Psicologia sempre culpa os pais pelos conflitos psicológicos dos filhos. Muitas vezes esse mito acaba sendo reforçado pelos próprios psicólogos, quando estes não têm o tato e a sensibilidade suficientes para orientar os pais a se posicionarem na complexa rede de afetos que estão envolvidos nas relações familiares.

Por isso, devido a essa complexidade de fatores em jogo, proponho que não pensemos mais em “culpa”. Troquemos essa palavra tão cheia de significados e conotações negativas por outra, muito mais libertadora, construtiva, positiva e realista: “responsabilidade”.

Nas relações familiares, ninguém é culpado de nada. Em se tratando do ambiente familiar, somos todos co-responsáveis pela saúde mental uns dos outros.

Como se pode perceber, responsabilidade é muito diferente de culpa. Esta última aprisiona, enquanto a primeira liberta.

E por que liberta?

Porque a responsabilidade, ao mesmo tempo em que evoca a participação de todos os familiares no sofrimento psicológico da criança, dá a cada membro da família, sobretudo à criança considerada “problemática”, o poder e a oportunidade de reverter a situação.

E como isso se dá?

Ora, é simples. Pense comigo: se eu sou o responsável por uma determinada situação estar ruim, isso significa que ela está sob a minha influência direta ou indireta, não é?

Se a situação está sob a minha influência, então automaticamente ela está nas minhas mãos, certo?

Logo, sou eu que tenho o poder alterá-la e modificá-la para melhor. Tem como uma notícia dessas não ser libertadora?

Quer sejamos o paciente, quer sejamos um familiar, basta que tenhamos a humildade e a coragem de analisar a nós mesmos com a maior honestidade possível e nos fazermos a seguinte pergunta: “como eu posso melhorar isso?”

Claro que responder a uma pergunta dessas nem sempre é tarefa fácil. É para isso que nós, os psicólogos, existimos: embora não tenhamos respostas prontas, estamos aqui muito mais para ajudar nessa busca do que para curar alguma “doença”.

Paulo Becare Henrique
CRP - 06/70260

3 comentários:

  1. Nossa Dr ,muito obrigada por dividir seu conhecimento conosco.Aqui em casa em cada discussão sempre sobra um culpado ou mais de um .De hj em diante vou pensar mais na minha responsabilidade.
    Obrigada.

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  2. Olá Fabíola Faria! Muito obrigado pelo seu comentário. Esse feedback é importantíssimo para nós.

    Nosso objetivo com este blog é justamente promover pensamento, reflexão, conscientização e mudança. Que bom que isso aconteceu com você. Sinal de que estamos no caminho certo.

    Escreva-nos sempre que tiver vontade!

    Grande abraço,

    Paulo Becare Henrique

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  3. A complexidade das relações familiares é sempre um desafio...que angústia e nos coloca nesse lugar de culpados. Eu como mãe de três filhas , já com netas e um casamento de 40 anos percebo como os papéis ficam confusos e cheios de conflitos! Conviver é as vezes prazeroso e assustador!Os resultados são froteristicos. Ficamos entre culpa e culpados e não pensamos de forma constitutiva ! Valeu ! Foi muito importante e me ajudou demais!!

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